A- Você é o meu companheiro.
B- Hein?
A- Você é meu companheiro, eu disse.
B- O que?
A- Eu disse que você é meu companheiro.
B- O que é que você quer dizer com isso?
A- Eu quero dizer que você é meu companheiro, só isso.
B- Tem alguma coisa por trás, eu sinto.
A- Não. Não tem nada. Deixa de ser paranóico.
B- Não é disso que eu estou falando.
A- Você está falando de que, então?
B- Eu estou falando disso que você falou agora.
A- Ah, sei. Que você é meu companheiro.
B- Não, não foi assim: que eu sou teu companheiro.
A- Você também sente??
B- O que?
A- Que você é meu companheiro?
B- Não me confunda. Tem alguma coisa atrás, eu sei.
A- Atrás do companheiro?
B- É.
A- Não.
B- Você não sente?
A- Que você é meu companheiro? Sinto, sim. Claro que eu sinto. Você não?
B- Não. Não é isso. Não é assim.
A- Você não quer que seja assim?
B- Não é que eu não queira: é que não é.
A- Não me confunda. Por favor, não me confunda. No começo era claro.
B- Agora não?
A- Agora sim. Você quer?
B- O que?
A- Ser meu companheiro?
B- Ser teu companheiro?
A- É.
B- Companheiro?
A- Sim.
B- Eu não sei. Por favor, não me confunda. No começo era claro. Tem alguma coisa atrás, você não vê?
A- Eu vejo. Eu quero.
B- O que?
A- Que você seja meu companheiro.
B- Você disse?
A- Eu disse?
B- Não. Não foi assim: eu disse.
A- O que?
B- Você é meu companheiro.
A- Hein?
(ad infinitum)"
Caio Fernando Abreu
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